sábado, 28 de janeiro de 2012

O Fluxo das Águas

Eu quero seguir os rios porque os rios não retrocedem, sei que suas correntes cristalinas um dia chegarão à imensidão, meu vazio então poderá se juntar ao todo, farei parte de tudo, serei parte de algo, algo imenso.
Os rios correram no dia em que a criança sentiu fome, os rios a trouxeram, os rios a levaram pura, sei que suas correntes lavaram suas feridas, na imensidão ela não se sente só.
É semelhante a uma onda imensa a devoção, quando o amor sangra feliz pelo simples fato de agir. Quando a mãe sofre pelo filho, quando a mãe luta pelo casamento, quando a mãe se corta em favor da família, sei que rios correm através dela.
Apaixono-me por sentimentos primários, porque a beleza é simples, a beleza queima, a beleza é intensa, a beleza é a verdade e nós somos somente cegos nadando nos rios em busca da mesma.
Ah como eu quero me perder nas águas do esquecimento, mas se eu pudesse apenas retornar para observar o que as águas levam transbordaria de paz. Como eu seria feliz se apenas pudesse observar, observar sem ser visto, seria feliz.
As vezes vejo as águas fluindo naturalmente, num casal de idosos, é evidente que a chama da paixão acaba, não, ela não acaba, os rios a levam e trazem respeito, que é a maior demonstração de fidelidade entre duas pessoas, o respeito é um fruto das águas, as águas devem fluir.
Não se pode parar o fluxo das águas, o destino de todos é o todo, somos todos rios que correm para um ponto de paz, vagamos às vezes sem sentido, mas sempre estamos em movimento progressivo, mesmo nos momentos em que o fluxo parece retroceder.
Alguns olhos podem observar outros rios, alguns olhos podem ver através dos rios, os olhos queimam de paz ao ver a pureza, mas sempre desejam o todo. Os olhos choram por não poderem pertencer a outras realidades, a única realidade dos olhos são as correntezas que fluem através das suas lágrimas de desejo. Mas os olhos desejam pertencer a algo, desejam se perder em favor de pertencer a algo maior, deixe-nos chorarem em favor de suas próprias redenções, deixem-nos seguir seu curso.
Eu quero seguir os rios até que então desfaça minha essência em algo maior, não temo por perder a consciência que com dor foi moldada, apenas quero descansar nas águas de mansidão, na imensidão, me perder com apenas um resquício de reafirmação, o de que pertencerei a ao todo, farei parte de tudo, serei parte de algo, algo imenso.

Templo de Arquétipos dos Mil - Manoel Carneiro

Reinam nesse castelo, morte e vida, paz e caos.
Reinam o suicida, todas as vidas, mil reféns.

Força oposta, grande mal,
Dominantes, um por vez.

Toma-me, queima-me, torna-me farol,
Brilha em mim, toda dor enquanto houver,
Decifra-me,
Templo de arquétipos dos mil.

Nobres e traidores, mártires santos e o santo fogo, venham já!
Venham, para o banquete onde a cabeça é de voz.

Porque não pode morrer, o torturem, pois não vai.

Toma-me, queima-me, torna-me farol,
Brilha em mim, toda dor enquanto houver,
Decifra-me,
Templo de arquétipos dos mil.

Vem, sinta compaixão,
Sinta dor ou nojo aqui, em mim.

Reze, para que um Senhor,
Mate seus rivais e assuma a casca então.
Que seja um!
É o mal?
É o bom?
É o neutro?
Quem é Deus?

É o mal?
É o bom?
É o neutro?
Quem é Deus?

O Senhor do Templo tem mil faces fortes e fracas todas são.
Quando o Templo então cair, liberta a casca.
O Senhor do Templo são mil vozes em fúria sobre o altar.
E o Templo vai cair, vai cair, vai cair, já não há forças nas colunas de terror.
E o pesar, o chorar, dos que observam chamas no altar.
Vai cair, vão cair, só as chamas purificam o Refém,
O Refém, o Refém, que abraça o Poder, o Refém,
Vão cair inocentes lágrimas dos que nada vem, além dessas chamas no altar.

Entre e contemple o vazio, se é puro.
Entre, pois os Deuses são vazios,
Só a Ave que também leva o sacrifício em si,
Só a Ave que também é um templo pode ver,
Só um Templo pode então ter colunas de terror,
Ter os olhos de terror, reconhecer Terror em si,
Perceber que não é um, mas que ainda está só.
Voar alto sobre o céu, sobre as nuvens do luar,
Afastando-se dos bons, afastando-se por bem,
Pelo bem do puro que tenta entender o mal,
Tenta tocar o poder e seu sangue queima então.
Só a Ave pode ver, só a Ave entendeu.

Caia então o Templo Mal,
E liberte a Ave então.

Caia toda maldição,
Caia então, Caia então,
Caia então, Caia então,
Caia então, Caia então,
Caia então, Caia então!

Toma-me, queima-me, torna-me farol,
Brilha em mim, toda dor enquanto houver,
Decifra-me,
Templo de arquétipos dos mil.

Toma-me, queima-me, torna-me farol,
Brilha em mim, toda dor enquanto houver,
Decifra-me,
Templo de arquétipos dos mil.

Rios de Paz - Manoel Carneiro

Onde a Fé era escudo já não há força alguma aqui.
Pronto estou para a espada e a voz que cantava cessou.

Estranho sorriso desponta em mim.

Fé que outrora embalou, fortaleceu,
Vela o que a negou,
Entrando nos Rios de Paz.

Clamo agora pelo Nada, não reclamo o Paraíso lá.

E o vácuo preencherá meu ser.

Deus que outrora me abençoou, me confortou,
Foi minha culpa, acreditar é para o bom coração.

Chuva eterna sobre mim e meu ser,
Rios fluem do nada e vazios,
Atravessam o que eu fui, apagam-me,
E as dores que já não são, me levam pros Rios de Paz.

Não reclamo o Paraíso lá.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Deixe-me Entrar - Manoel Carneiro

Dia 25, risos,
Dia 20 e algo a mais sustenta que tudo vai desmoronar,
Vai quebrar!

Quebrar as emendas, quebrar,
Quebrar as desculpas tão esfarrapadas,
Todos os prazos vão ruir,
Vão desmoronar!

Enquanto houver mais, enquanto houver quase nada,
Quase nada, pra ter.
Enquanto houver paz, enquanto houver qualquer coisa,
Quebrável, lá estará a carta que pode salvar.

Recolham as máquinas agora,
Quero negociar com sentimentos em fogo,
Se puder negociar, sinta a dor, tome-a.

Olhe nesses olhos falhos, olhe para mim,
Deixe meu discurso envolver o que toca dentro aí,
Onde somos um e você maior.

Enquanto houver mais, enquanto houver quase nada,
Quase nada, pra ter.
Enquanto houver paz, enquanto houver qualquer coisa,
Quebrável, lá estará olhos em chamas a te torturar.


Falhas têm de ser vetadas, esse é o plano a se seguir,
Deixe-me entrar mais fundo, convencer que deve me abraçar.

Enquanto houver mais, enquanto houver quase nada,
Quase nada, pra ter.
Enquanto houver paz, enquanto houver qualquer coisa,
Quebrável, lá estará a gratidão que infla os egos bons.

Agir - Manoel Carneiro

Seguido pelas ruas por algo que criei,
Não importa o que criei, sei que é algo ruim.

Perdido bem no olho de um macro -furacão,
Revendo as chances de escapar sem um dano maior.

Sem solução melhor, não, nao há, desejo consertar, eu vou.
Tornando o sono outra vez melhor e mais calmo, eu vou.

Eu vou pensar por uma noite em mim,
E decidir não pensar mais em mim,
E consertar o que fiz do que restou, de mim, o que restou?

E eu preciso ...

Preciso organizar as coisas como estão,
Não podem mais ficar como estão,
Não mais por mim, mas por quem eu envolvi,
Não posso envolver.

Vou agir, a hora chegou.

Correndo contra o tempo, juntando o que restou,
Escolha as respostas como nunca escolheu!

Sem solução melhor, não, nao há, desejo consertar, eu vou.
Tornando o sono outra vez melhor e mais calmo, eu vou.

Eu vou pensar por uma noite em mim,
E decidir não pensar mais em mim,
E consertar o que fiz do que restou, de mim, o que restou?

E eu preciso ...

Preciso organizar as coisas como estão,
Não podem mais ficar como estão,
Não mais por mim, mas por quem eu envolvi,
Não posso envolver.

Vou agir, a hora chegou.